"A falta de acesso a sistemas de coleta e tratamento dos esgotos urbanos está entre os problemas mais graves no mundo, especialmente nas nações mais pobres. O relatório Desenvolvimento Humano 2006, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, revelou que cerca de 2,6 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a sistemas de tratamento de esgotos. Trata-se de um déficit duas vezes e meia superior ao déficit de acesso à água potável. São números que tornam cada vez mais difícil o cumprimento da meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, de reduzir pela metade, até 2015, o déficit global do nível de cobertura de 1990. Deve-se levar em conta que, mesmo se a meta for cumprida, ainda restarão cerca de 1,9 bilhão de pessoas sem acesso ao sistema de tratamento de esgotos.
No Brasil, o último Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto, divulgado pelo Ministério das Cidades em agosto, revelou que em 2007, ano de referência do estudo, o percentual de coleta de esgotos alcançava apenas 49,1% da população urbana do país. Isso significa que os esgotos gerados por pelo menos 80 milhões de brasileiros que vivem em áreas urbanas não são coletados. O quadro fica ainda mais grave quando se considera que, do montante de esgotos coletados, apenas 32,5% recebem tratamento. Em resumo: menos de 16% do total do esgoto produzido pela população urbana do país (cerca de 157 milhões de pessoas) é efetivamente tratado pelas companhias de saneamento, públicas ou privadas.
Mesmo tomando-se por base apenas as maiores cidades do país, os números não são muito melhores. O Instituto Trata Brasil fez um levantamento sobre a situação das 79 cidades do país com mais de 300 mil habitantes que englobam, juntas, uma população de 70 milhões de pessoas. Nesse grupo de cidades, o índice de atendimento com rede coletora de esgotos chega a 59% da população, enquanto o índice de tratamento (em relação ao volume total de água potável consumida) é de apenas 36%. Na Região Norte, esse índice atinge patamar vergonhoso: 9%. O segundo pior número é o da Região Sul, conhecida pela boa qualidade de vida, onde 29% do esgoto é tratado. Com um índice de 41,8%, a região Centro-Oeste é a mais bem colocada.
Esses indicadores refletem os baixos níveis de investimento do país em saneamento. As estimativas atuais mostram que seria necessário aplicar R$ 270 bilhões para cobrir o déficit de saneamento no Brasil. Considerando que o Programa de Aceleração do Crescimento está destinando algo como R$ 10 bilhões por ano, significa que precisaremos de nada menos do que 27 anos para corrigir o déficit atual." (Fonte: Instituto AMANHÃ - Guia de Sustentabilidade)
O texto acima reforça que, além de investimentos em volumes ainda maiores que os disponíveis hoje - apesar destes já serem bem superiores aos dos anos que antecederam ao PAC do Governo Lula - é imperativa uma ampla análise de soluções inovadoras para o setor, com a participação dos órgãos ambientais na busca de uma solução também para a atual geração. Será falível qualquer estratégia de supervalorizar a conservação do meio ambiente se a saúde da geração atual - que morre diariamente pela ausência ou carência de sistemas de esgotamento sanitário - não for parte integrante da análise.
Vale a pena refletir sobre o que realmente queremos, sem as paixões de discussões passionais!!!
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